terça-feira, 20 de maio de 2014

CÃES SÃO ANIMAIS ONÍVOROS OU CARNÍVOROS ?

 


 Há assuntos que continuamente ressurgem entre

 vegetarianos, defensores dos direitos animais e o público

 em geral. Um desses assuntos se refere ao status de cães

 em relação aos seus hábitos alimentares: se cães são

 carnívoros ou onívoros. 


 Para efeitos de classificação, cães são animais mamíferos
 pertencentes à Ordem Carnívora. Essa é uma ordem
 bastante diversificada de mamíferos, mais de 260 espécies,
 que partilham entre si um ancestral comum próximo, além
 de algumas características físicas comuns a quase todas as
 espécies (pés com quatro ou cinco dedos, unhas em forma
 garras, dentes adaptados para cortar, com a presença de
 caninos fortes, cônicos e pontiagudos).

 Taxonomistas tem consciência de que o termo aplicado à
 Ordem - Carnivora - está defasado. A denominação até hoje
 presente é antiga (1821) e se baseia no hábito alimentar
 predominante dentro do grupo.  Hoje se reconhece que
 chamar a uma ordem de mamíferos Carnívoros gera
 confusão, porque se por um lado o nome permite agrupar
 familias aparentadas, por outro ela pretende nos dizer o que
 esses animais comem, o que não pode ser generalizado.


 Não existe uma ordem de mamíferos chamada herbívora e
 uma outra chamada onívora. Animais são classificados com
 base em seus ancestrais comuns e suas características
 físicas, não com base em seus hábitos alimentares. Assim,
 dentro da maioria das ordens de mamíferos há animais que
 consomem carne ou insetos e por outro lado há, dentro da
 Ordem Carnívora, animais que nunca ou quase nunca
 consomem carne.

 Há Mamíferos Carnívoros que pelo seu hábito alimentar na
 natureza são carnívoros obrigatórios (felinos, furões, ursos
 polares, focas, etc), outros consomem parte de sua dieta em
 carne e parte em vegetais e por isso devem ser
 considerados  taxonomicamente carnívoros, embora com
 hábitos onívoros (ursos, guaxinins, quatis, canídeos, etc) e
 alguns deles, inclusive, alimentam-se basicamente de
 vegetais (urso-panda).

O lobo cinzento (Canis lupus), espécie da qual deriva o cão
 doméstico, é uma espécie carnívora com hábitos alimentares
 onívoros. Animais que habitam regiões temperadas do
 hemisfério norte, alimentam-se principalmente da carne de
 caça, mas  grupos que habitam regiões mais quentes e com
 maior disponibilidade de vegetais consomem também
 vegetais, embora não exclusivamente.

O lobo guará (que apesar do nome não é um lobo) é um
 canídeo brasileiro cuja dieta, em sua maior parte, é
 constituída de frutas, tubérculos, cana-de-açúcar e mel.
 Pequenos animais, ovos e insetos também são consumidos,
 mas representam um papel secundário na alimentação como
 um todo.

Cães domésticos são taxonomicamente mamíferos carnívoros
 da família canídae. Isso não diz nada sobre sua dieta.  Há
 cães que se adaptam bem ao consumo de frutas e legumes,
 cereais, leguminosas e sementes. Outros preferirão uma
 dieta exclusivamente constituída de carne, quanto muito
 aceitarão arroz ou algum legume se estiver muito bem
 misturado à mesma. Tudo isso tem mais a haver com o
 costume do que com uma necessidade biológica.

 Cães domésticos podem ser acostumados ao consumo de
 alimentos exclusivamente vegetais.  Para isso, porém, faz-se
 necessário que este alimento lhes seja oferecido em
 composição de nutrientes balanceada para atender às suas
 necessidades fisiológicas.  O alimento deve ser preparado de
 modo a conter todos os aminoácidos essenciais que não são
 sintetizados pelo organismo do animal. Deve conter, ainda,
 todos os lipídeos, vitaminas e minerais necessários para a
 manutenção de sua boa saúde. O alimento deve, também,
 estar disponível em uma versão sensorialmente agradável ao
 animal. Isso pode ser conseguido de diferentes formas.

           Foto arquivo pessoal:   Canil Serra da Bocaina


Há uma discussão pseudo-ética e pseudocientífica em relaçãoà nossa prerrogativa em alterar os hábitos alimentares de cães domésticos. Se temos esse direito ou não pode-se realmente discutir, mas a verdade é que todas as pessoas que mantém esses animais alteram seus hábitos. Na natureza cães/lobos perseguiriam bois almiscarados, veados, coelhos e aves diversas. Os abateriam e consumiriam sua carne, especialmente os órgãos moles, sem limpar.
Uma pessoa que crie cães, mesmo que os alimente com
 carne, não estará o alimentando com a carne de caça, com
 os cortes que eles naturalmente escolheriam. Não estará
 lhes permitindo caçar, consumir o conteúdo estomacal do
 animal, sua pele e os tendões. A dissonância é ainda maior
 nos casos em que se alimenta o animal com rações
 comerciais e em lata, que são de qualquer forma
 constituídas de sobras de matadouros, farelos de milho e
 soja, quirera de arroz, cenoura, ervilha e muitos
 conservantes.
A alteração do comportamento não se encerra por aí. Não
 permitimos aos cães expressarem seu comportamento
 natural quando os criamos em chãos cimentados ou de piso,
 quando não os permitimos cavocar na terra, rolar na
 carniça, entrar em lagoas, ter contato com outros cães ou
 copular segundo seu próprio arbítrio. Contrariamos sua
 natureza quando mandamos que parem de latir, quando lhes
 damos banhos, quando escolhemos aonde que eles devem
 defecar e urinar, quando limitamos sua movimentação e seu
 acesso à relva.  Não me entendam mal, sei que esse é o
 preço da domesticação. Se não fizéssemos todas essas
 coisas, a convivência com cães não seria tão fácil.


           Foto Arquivo pessoal: Canil Serra da Bocaina 



Então sim, entendo a aflição das pessoas que se opõe à
 manutenção de cães com dietas vegetarianas. Entendo e
 questiono, pois essa é uma aflição não refletida. Ninguém
 que conheço, vegetariano ou não, permite aos seus cães
 expressarem seu comportamento de maneira natural. Há
 mais de 20 anos que não conheço alguém que crie cães com
 outra coisa que não seja ração. Rações podem ser boas ou
 ruins, mas isso nada tem a haver com serem rações
 vegetarianas ou não. Rações precisam ser balanceadas, elas
 precisam ter uma quantidade adequada de carboidratos,
 proteínas, lipídeos, vitaminas e minerais. Isso pode ser feito
 utilizando-se ingredientes de origem animal ou não. De toda
 forma não é a dieta natural que o animal seguiria, se tivesse
 a opção.




Ana Rosa Figueira 







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